Neste Blog rendemos a nossa homenagem aos Gestores e Agentes Policiais que, apesar das dificuldades internas, das leis brandas, do enfraquecimento da autoridade, dos salários baixos, do fracionamento do ciclo policial e das mazelas do Judiciário que discriminam e alijam as forças policiais do Sistema de Justiça Criminal impedindo a continuidade e a eficácia dos esforços contra o crime, dedicam suas vidas na proteção do cidadão, na preservação da ordem pública e na defesa do povo, das Instituições e do Estado, em prol da almejada PAZ SOCIAL no Brasil.

domingo, 17 de junho de 2012

NOVA GERAÇÃO CONTRA O CRIME

 

HUMBERTO TREZZI - ZERO HORA, 17/06/2012


TURMA DE 2012

Nova geração contra o crime

Grupo de alunos do curso de agentes da Polícia Civil dá prioridade à tecnologia em lugar da força


No final de 2012, o Rio Grande do Sul receberá uma fornada de 782 novos policiais civis. Quando eles forem incorporados, a Polícia Civil ficará com 6.059 integrantes, seu maior efetivo em 17 anos. E um dos maiores das últimas três décadas.

E quem são esses novatos? A valentia continua admirada, o pé na porta ainda pode ser solução numa emergência, mas os policiais da geração atual dão prioridade a outros métodos. Computador, lupa, pós químicos e uso da psicologia nos interrogatórios cada vez mais substituem as armas e os músculos.

Tecnologia é tudo na moderna investigação policial. E isso começa pela Academia, onde os candidatos a agente receberão mil horas de aula. Na Delegacia Experimental, uma sala que reproduz o ambiente onde os futuros policiais trabalharão, a média é de quase um computador por aluno, com acesso à internet e aos bancos de dados da segurança. Os alunos aprendem a preencher um boletim de ocorrência, a elaborar um inquérito, a checar antecedentes de um suspeito. Com direito a pesquisar endereços, contas etc, como acontece numa delegacia real.

O trabalho dos infiltrados


Infiltrar um policial no meio criminoso é uma das atividades mais difíceis – e, por isso, uma das disciplinas mais estudadas na Academia. No curso de Inteligência Policial, os alunos aprendem não apenas a se disfarçar de bandidos, como a analisar as informações coletadas e planejar as prisões que elas possam originar. Algumas regras:

Como atender a um telefonema: disfarçado, em frente ao chefe da quadrilha, o policial recebe um telefonema inesperado. “Alô, mãe, posso falar depois?” é uma das frases sugeridas para este momento crucial. Tudo, desde que seu disfarce não seja descoberto.

Ao deparar com um crime: faz parte do disfarce agir como um criminoso. Prender alguém significaria se expor. O policial deve esperar e avisar aos colegas, depois, quem foi o autor do delito.

Quem se disfarça não prende: o objetivo do infiltrado é coletar informação e repassá-la aos colegas. Não é prender. A prisão é a última etapa, muito depois da investigação estar concluída.

Ação em vila de mentira

Pistola na mão, tensão no ar, correria, gritos... qual policial não gosta de ação? Pois os novos recrutas da Polícia Civil adoram. Embora planejem, estudem e se preparem mais que os de gerações anteriores, os novatos também curtem o ápice da atividade policial, a prisão dos “maus elementos”.

Uma das aulas mais frequentadas é a disciplina de Técnicas de Operações Policiais, ministrada pelo delegado Mauro Vasconcellos e pelo inspetor Ramiro Santos da Silva. O treino é feito dentro de uma “favela” de mentira. Um festival de berros, adrenalina e algemas, que faz a diversão dos alunos a cada pequena gafe.

Academia do futuro
- Formação e idiomas – Desde 1997, todos os policiais civis têm de ter curso superior. Nos anos 1980, a exigência era feita apenas aos delegados, que tinham de ser formados em Direito. E, nas décadas anteriores, nem aos delegados. Em alguns casos eram admitidos delegados não formados, apelidados calças-curtas. Muitos dos jovens alunos trazem seu notebook às aulas e falam inglês, além de espanhol.
- O peso da perícia – Os alunos são conduzidos aos prédios do Departamento Médico Legal (DML) para aulas de anatomia. Vão aos laboratórios do Instituto-geral de Perícias para adquirir noções de balística, isolamento de local de crime, recolhimento de provas.
- Cidadania e Direitos Humanos – Algumas disciplinas da Academia de Polícia Civil são novidade, se comparadas com o que era ministrado há algumas décadas. A ideia é mostrar aos policiais que até suspeitos de crime são cidadãos, com direitos a serem respeitados. Não por acaso, uma das matérias que os novatos aprendem, ministrada pelo ex-chefe de Polícia Pedro Rodrigues, chama-se Ética e Cidadania: formando um Policial Cidadão. São temas recomendados pelo Ministério da Justiça a todas as polícias.
- Seguindo a cartilha legal – Muita gente não sabe, até por não ser nascida naquela época, mas até 1988 policiais podiam entrar na casa de suspeitos sem mandado judicial. A ordem de busca e apreensão era preenchida pelo próprio delegado. Na academia, os novos alunos aprendem que, sem mandado judicial, o serviço cai por terra. Entrar sem autorização só mesmo em casos de risco de vida, flagrante ou para evitar um crime.
- Ambiente mais feminino – Há três décadas, mulher na Polícia Civil era tão raro que virava celebridade e motivo de conversa. No atual concurso para agente, quase a metade dos alunos (41,3%) é mulher. Elas não dispensam batom, mas não fogem das aulas de judô e adoram o curso de tiro.
- A polícia mudou – Ainda é possível encontrar policiais de bombacha e alpargata derrubando uma porta, como ocorreu recentemente numa operação em Viamão, mas a regra agora é uniforme, escudo protetor, muito planejamento e menos sangue possível. Qualificação, mas ainda falta quantidade. Embora grande, o novo contingente nem de longe supre a necessidade de policiais civis, cujo número deveria ser o dobro do atual.

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