DISCOVERY BRASILUm
aspecto importante do trabalho policial envolve falar com vítimas,
testemunhas e suspeitos de um crime. Quer seja um acidente de trânsito
ou um homicídio, o relato oculta a verdade que o investigador precisa
descobrir para solucionar o caso. A linha de interrogatório depende de
cada situação e do caráter dos envolvidos. Interrogar um suspeito de
estupro não é a mesma coisa que entrevistar uma mulher ou uma criança.
Algumas
técnicas de interrogatório vêm ganhando destaque nos últimos anos. Elas
diferem quanto à observação do comportamento do suspeito e a condução
do interrogatório. As principais são a técnica cinestética e a técnica
de Reid.
TÉCNICA CINESTÉTICA A técnica
cinestética reconhece e interpreta uma ampla gama de comportamentos
físicos e verbais, consistentes e inconsistentes, para verificar se o
suspeito está mentindo ou dizendo a verdade. Nenhuma das indicações
obtidas pode ser considerada prova conclusiva, mas o conjunto de reações
do suspeito permite ao investigador interpretar, com certo grau de
certeza, se ele está agindo de maneira evasiva ou falsa.
Em linhas gerais, a técnica consiste nos seguintes elementos: 1. Comportamento verbal A
técnica cinestética analisa sobretudo o modo de falar do suspeito:
insegurança, silêncios repentinos, excesso de camaradagem, perguntas
respondidas com outras perguntas, iniciar uma frase repetindo a pergunta
ou invocando o nome de Deus.
2. Respostas divergentes. As
respostas de um interrogatório podem ser enquadradas em dois padrões de
comportamento. O interrogador pode afirmar, por exemplo, que as
impressões digitais do suspeito estavam na maçaneta da portam da vítima.
Se o suspeito não estiver envolvido no fato, dirá que é impossível,
caso contrário, inventará algum tipo de desculpa. O interrogador também
pode criar armadilhas com perguntas falsas para obter uma confissão, uma
prática que não é legal. Ele pode afirmar, por exemplo, que o suspeito
foi visto entrando em uma sala quando isso não é verdade.
3. Comportamento não verbal O
interrogador observa a linguagem corporal do suspeito em perguntas
difíceis e compara sua reação com a forma como responde a perguntas
normais, não intimidadoras, para tentar determinar padrões de
comportamento. Por exemplo, o suspeito pode estar mentindo se estiver
relaxado e, em seguida, cruzar os braços após uma pergunta difícil, ou
esfregar o nariz sempre que nega seu envolvimento no caso.
TÉCNICA REID -
A técnica de Reid começa com uma entrevista descontraída, livre de
acusações para, no momento adequado, dar lugar a uma linha de
interrogatório que consiste em nove etapas.
1. Confrontação positiva O
investigador afirma que o suspeito é culpado, avalia sua reação e
continua a fazer afirmações que permitam explicar e provar por que ele
cometeu o crime. O método, chamado de “declaração de transição”, visa
obter uma admissão de culpa do suspeito.
2. Desenvolvimento de um tema O
investigador interpreta o tipo de personalidade do suspeito e o induz a
dar mais explicações sobre aspectos que minimizam ou justificam o
crime. É provável que o suspeito confesse depois de racionalizar e
perceber que pode ser responsabilizado pelos fatos. O investigador pode,
por exemplo, afirmar que outras pessoas teriam feito o mesmo em seu
lugar.
3. Controle de negação O
investigador tenta convencer o suspeito de que não é conveniente negar
seu envolvimento no caso. A tentativa de negação do suspeito através de
gestos para chamar a atenção, busca de contato visual ou abrindo a boca
como se quisesse falar, deve ser interrompida pelo investigador com um
comentário de reprovação.O investigador pode dizer algo como “antes que
você diga qualquer coisa, deixe-me explicar a gravidade da situação”,
fazendo um gesto com a mão para que pare de falar e evitando o contato
visual com o suspeito.
4. Objeção iminente O investigador deve racionalizar os argumentos do suspeito para descartar suas desculpas e motivos para negar a acusação.
5. Atenção O
investigador deve manter a atenção do suspeito. Permanecer em silêncio,
evitar o contato visual ou cruzar as pernas pode indicar que o suspeito
está pensando em outra coisa. Para atrair sua atenção, o interrogador
deve utilizar técnicas invasivas de aproximação, como colocar a mão
sobre o ombro do suspeito, aproximar a cadeira ou se movimentar dentro
de seu campo visual. Também são utilizadas técnicas verbais para dominar
e controlar a atenção do suspeito.
6. Passividade O
comportamento passivo do suspeito pode indicar que ele está pronto para
admitir sua culpa. Nessas circunstâncias, o interrogador deve fazer um
resumo dos motivos que levaram o suspeito a cometer o crime e observar
atentamente suas reações de aprovação ou negação.
7. Perguntas alternativasO
investigador faz uma pergunta com duas respostas possíveis, ambas
incriminadoras. Por exemplo, “Você pagou o que devia ou gastou o
dinheiro se divertindo?”. Em qualquer caso, o suspeito admite a culpa.
8. Detalhamento de eventos O
investigador deve identificar discrepâncias e incoerências na história
contada pelo suspeito para esclarecer detalhes incriminadores antes de
obter uma confissão completa. O método consiste em utilizar palavras que
reduzam a carga emocional dos fatos. O investigador pode perguntar
quantas vezes o suspeito apertou o gatilho em vez de dizer quantas vezes
atirou à queima-roupa.
9. Confissão escrita Nesta
etapa, é muito importante incluir uma confissão assinada pelo suspeito
com detalhes sobre o crime que apenas ele conhece. O documento deve
representar uma admissão de culpa espontânea do suspeito, para evitar
que seja rejeitado em um tribunal, posteriormente.
OUTRAS TÉCNICAS
Silêncio A maioria das pessoas não se sente pouco à vontade em silêncio e começa a falar apenas para quebrar a tensão.
Empatia Minimizar
o sentimento de culpa pelo comportamento ilícito para facilitar a
obtenção da confissão. O interrogador pode, por exemplo, contar uma
experiência pessoal.
Apelar para as emoções e a espiritualidade A
culpa pode pesar na consciência do suspeito, e o interrogador pode
recorrer a afirmações como “sei que você é uma pessoa boa e isso está te
afetando. Você vai se sentir melhor se desabafar”.
Mostrar sinais de culpa Para aumentar a pressão, o interrogador informa que o suspeito está demonstrando sinais que revelam sua culpa.
Afirmar que sabe de tudo Depois
de fazer uma pergunta, o investigador pode dizer que já sabe a
resposta. Pode afirmar, por exemplo, que já interrogou outras pessoas
sobre o caso.
Oferecer uma chance para o acusado mentir O interrogador pode sugerir um cenário e uma situação que ele sabe ser falsa para ver se o suspeito concorda.
Um investigador deve conhecer, aprender e aplicar estas e outras
técnicas para desenvolver seu próprio estilo de interrogatório.
Saiba
mais sobre os métodos que arrancam a verdade de qualquer suspeito em
“Motivos para Matar”, todos os sábados, às 21 horas, no ID.