Neste Blog rendemos a nossa homenagem aos Gestores e Agentes Policiais que, apesar das dificuldades internas, das leis brandas, do enfraquecimento da autoridade, dos salários baixos, do fracionamento do ciclo policial e das mazelas do Judiciário que discriminam e alijam as forças policiais do Sistema de Justiça Criminal impedindo a continuidade e a eficácia dos esforços contra o crime, dedicam suas vidas na proteção do cidadão, na preservação da ordem pública e na defesa do povo, das Instituições e do Estado, em prol da almejada PAZ SOCIAL no Brasil.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

FILA PARA CADEIA

ZERO HORA 22 de novembro de 2013 | N° 17622


JOSÉ LUÍS COSTA E ROBERTO AZAMBUJA

Operação Iceberg prende 62 na Região Metropolitana

Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico pretende fechar todas as bocas de fumo de Esteio




Uma tática arriscada e pouco usual de investigação, colocada em prática com sucesso pelo Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) desencadeou uma operação com objetivo audacioso: acabar com o tráfico em Esteio, na Região Metropolitana.

Apartir da infiltração de dois inspetores do Denarc que viveram entre consumidores de crack, de cocaína e de maconha na cidade, foram mapeados 43 pontos de venda de entorpecentes no município, e outros 20 na vizinha Sapucaia do Sul, resultando na prisão de 62 pessoas.

Viaturas não paravam de chegar ao pátio do Denarc durante toda a manhã de ontem. Com 380 agentes e 90 viaturas, a polícia acredita ter eliminado o chamado crime organizado de rede, mantido por traficantes especializados em seis bairros de Esteio e que ganhava ramificações em outros quatro de Sapucaia do Sul.

A maioria dos detidos é de pessoas conhecidas em Esteio, de diferentes níveis sociais, como comerciantes, taxistas, motorista de transporte escolar e frentistas de posto de combustíveis, fomentando o tráfico de drogas em praticamente toda a cidade.

A ofensiva consumiu sete meses de investigações.

– Praticamente, esgotamos as bocas da cidade – afirma o delegado Heliomar Franco, diretor de Investigações do Denarc.

Conforme o titular da 1ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico (DIN), delegado Mario Souza, eram 11 quadrilhas que se “retroalimentavam, em um esquema de parceria”:

– Conseguimos autuar em todos os níveis da organização criminosa, desde o “soldado” do tráfico até os líderes.

A coletânea de evidências convenceu o judiciário a decretar 156 mandados judiciais. A partir de agora, o objetivo do Denarc é deflagrar a segunda etapa da Operação Iceberg, chegando nos fornecedores das drogas. Uma das estratégias é obter as informações dos presos, oferecendo a eles a delação premiada – também prevista na nova lei de repressão ao crime organizado, que permite, com aval do MP e do Judiciário, até o perdão judicial.



TRÊS MESES INFILTRADOS - Dois inspetores do Denarc infiltraram-se em quadrilhas passando-se por usuários de drogas durante três meses. Eles deverão ficar afastados pelo menos um ano de operações na cidade e não deverão comparecer nas audiências judiciais. A seguir, o relato dos policiais.

AS IMAGENS - Eram câmeras ocultas, e as imagens foram sendo aprimoradas, o tipo de câmera, o posicionamento. Tinha uma viatura discreta para apoio, que sempre ficava bem longe. Tinha notebook conectado à internet. A gente fazia a filmagem e, quando era possível, voltava até lá para carregar a câmera e descarregar os vídeos.

OS HORÁRIOS - A gente chegava à cidade no começo da tarde e ficava até depois da meia-noite. Em outros dias, passava toda madrugada com eles. O horário do tráfico é inverso da vida normal. É mais intenso à noite. Pela manhã, os viciados vão dormir.

A FAMÍLIA NÃO SABIA - Apenas o delegado (Mario Souza), os diretores do Denarc e o chefe de Polícia sabiam da operação. Em casa, a gente só dizia que era um trabalho importante. Ninguém sabia de nada. Foi um serviço de alto risco.

A ALIMENTAÇÃO - Andava sempre com eles, comia o que eles comiam. Salgadinho, cerveja em bar. Precisava conquistar a confiança deles para levar a gente até os pontos de venda. Comia até na mesa do traficante. Às vezes, dava para ir até a viatura e pegar um lanche.

MOMENTOS DE TENSÃO - O delegado ficava dando apoio em uma viatura, um Palio ou um Gol velhos. Mas quando tinha de entrar em um beco, a gente saia do raio de visão dele. Era a situação mais complicada. Além disso, foram umas 10 abordagens da BM. Respondia sempre sim senhor, mão na parede, junto com os outros (viciados). Era bom para nós. Eles (viciados) achavam que éramos parceiros.

DOCUMENTOS NA CUECA - A gente só carregava dinheiro para comprar a droga e um documento da Justiça que nos autorizava a trabalhar infiltrado. Mais nada. O papel ficava sempre escondido dentro da cueca. Não podia correr riscos de ser identificado.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Parabéns, senhores policiais. Porém, gostaria de saber quanto tempo estes "presos" ficaram ou ficarão presos e condenados se os presídios estão lotados e a justiça criminal segue os mandamentos da Lei 12.403/2011, a madrinha dos bandidos? Esta matéria mostra muito bem o planejamento, o esforço, a dedicação, a coragem e o risco de morte cruel dos policiais para cumprir o dever de proteger a sociedade. Se apenas uma parcela desta atividade tivesse valor junto ao poder político, apoio nas leis e seguimento ágil numa justiça coativa, valeria a pena.

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